Depois da morte do ator Chadwick Boseman, que faleceu em decorrência de um câncer colorretal estágio IV, o crescente número de jovens com a doença passou a receber um pouco mais de atenção da mídia. Antes, os tumores intestinais eram tidos como um problema dos mais velhos, mas pessoas cada vez mais jovens têm desenvolvido esse tipo de câncer.
Entretanto, uma outra questão que merece atenção é o risco aumentado de pessoas negras desenvolverem câncer colorretal. De acordo com o National Center for Health Statistics at the Centers for Disease Control and Prevention, 1 em 41 homens negros morrerão de câncer colorretal, em comparação com 1 em 48 homens brancos. O risco é semelhante para as mulheres, de maneira que 1 em 44 mulheres negras morrerão de câncer colorretal, em comparação com 1 em 53 mulheres brancas.
Esses dados refletem uma diferença que precisa ser discutida, não só para que cada pessoa possa se conscientizar a respeito do seu risco de ter a doença e se prevenir da melhor maneira possível, mas também para que possamos corrigir, coletivamente, outros fatores que parecem contribuir para essa estatística. Embora as pesquisas abordadas aqui se apoiem em dados norte-americanos, considero que a reflexão é válida, também, no Brasil.
Algumas entidades médicas, como a US Multi-Society Task Force of Colorectal Cancer e a American College of Gastroenterology já defendem que negros americanos iniciem os exames de rastreamento do câncer colorretal 5 anos antes do que a população em geral, aos 45 anos.
O exame mais indicado para o rastreamento do câncer colorretal é a colonoscopia. Infelizmente, esse exame ainda é muito temido por muitos pacientes, que hesitam em realizá-lo por medo de ser doloroso ou constrangedor. Alguns estudos relataram que pacientes homens negros americanos não se sentem confortáveis com a ideia da colonoscopia, preferindo a sigmoidoscopia flexível e o exame de pesquisa de sangue oculto nas fezes. As mulheres parecem não ter esse problema.
Embora o rastreamento com a pesquisa de sangue oculto nas fezes seja muito útil como uma espécie de triagem para colonoscopia, ele não é suficientemente sensível para diagnosticar a grande maioria das doenças intestinais.
Já a retossigmoidoscopia flexível investiga somente a porção final do intestino grosso e não requer sedação. Justamente por isso, os pacientes se sentem mais confortáveis em realizar o exame. Entretanto, pesquisas sugerem que negros americanos têm maiores riscos de desenvolver tumores do lado direito do cólon, onde esse exame não tem alcance.
Uma visão fatalista do câncer também parece ser mais comum entre negros americanos em relação à outros grupos étnicos. É quando o paciente pensa que já que vai ter câncer de qualquer forma, é melhor não ficar sabendo, e, por isso, não realiza os exames de rastreamento, fazendo com que a doença só seja descoberta quando já está em estágio avançado.
Vale ressaltar que independentemente da etnia, o câncer colorretal tem excelentes chances de cura quando é detectado e tratado precocemente. Por outro lado, existem outros obstáculos para que pessoas negras tenham acesso à esse tipo de cuidado médico.
Uma outra razão para a disparidade de raça em relação à mortalidade por câncer colorretal é a dificuldade de acesso aos cuidados de saúde. Muitos dados mostram que, nos Estados Unidos, menos negros estão vinculados à planos de saúde do do que brancos, tornando o rastreamento desse e outros tipos de câncer ainda mais difícil.
Além disso, alguns estudos demonstraram que os médicos americanos são menos propensos a indicar a colonoscopia para seus pacientes negros, apesar das recomendações das entidades médicas.
É difícil dizer com certeza o porquê, mas com a dificuldade do acesso à cuidados de saúde de maneira geral, pode ser possível que os pacientes cheguem ao especialista com outros problemas de saúde mais urgentes aos 45 ou 50 anos, como diabetes, hipertensão e doenças cardíacas.
Aqui, é importante deixar claro que todas essas enfermidades, inclusive o câncer colorretal, estão associadas à obesidade e à alimentação de má qualidade, rica em alimentos ultra-processados, carne vermelha e açúcar. Muitos estudos demonstraram que o estilo de vida de negros americanos incluía mais tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e alimentação rica em gordura em relação à outros grupos étnicos.
Ou seja, mudar a estatística de câncer colorretal em pessoas negras americanas é um desafio estrutural de conscientização dessa população da necessidade de adotar um estilo de vida saudável, bem como a promoção do acesso à saúde de maneira igualitária para essa população.
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