A endometriose é uma doença que afeta aproximadamente 10% da população feminina brasileira. Trata-se do desenvolvimento de tecido endometrial fora da cavidade uterina, o que causa uma série de sintomas durante o ciclo menstrual e pode, ao longo do tempo, levar à formação de tecido cicatricial.

Esse tecido pode ser inofensivo ou então causar problemas como obstrução das trompas, das vias urinárias e até mesmo do intestino, no caso da endometriose intestinal. Na verdade, entre 6% a 30% das mulheres com endometriose profunda (ou seja, quando os focos da doença se infiltraram por mais de 5 mm na pelve) possuem focos no intestino grosso. 

Sintomas e diagnóstico da endometriose intestinal 

Na maior parte dos casos, os sintomas são específicos e costumam direcionar o diagnóstico: dor abdominal, constipação ou diarreia, sensação de pressão ao evacuar e sangue nas fezes, especialmente durante a menstruação. 

Assim como muitas outras enfermidades, quanto antes a paciente iniciar o tratamento da endometriose (seja ela intestinal ou não), menores são as chances de precisar realizar uma cirurgia futuramente. 

Infelizmente, existem muitas mulheres que passaram a vida inteira com os sintomas de endometriose e só muito tempo depois receberam o diagnóstico correto, necessitado de cirurgia para evitar problemas maiores, recuperar a fertilidade ou melhorar a qualidade de vida. 

Isso ocorre porque muitas pessoas (e até profissionais da saúde) ainda acreditam que é normal sentir dor para ir ao banheiro, ter dificuldades na hora de evacuar e sentir muita dor durante o período menstrual. 

Isso afasta as mulheres de uma consulta com o médico que possibilitaria o diagnóstico precoce da endometriose e, consequentemente, o início do tratamento. Como consequência, a endometriose intestinal pode continuar a se desenvolver e acometer gravemente o intestino. 

Indicação da cirurgia para endometriose intestinal

De maneira geral, o tratamento cirúrgico da endometriose intestinal é reservado para casos em que há sinais ou sintomas de obstrução intestinal ou então quando a qualidade de vida da paciente está sendo muito prejudicada pela dor, mesmo com a interrupção do ciclo menstrual. 

Na primeira situação, pode ser necessário fazer a ressecção da porção do intestino afetada pela doença, já que a obstrução impede o trânsito natural das fezes. 

Na grande maioria dos casos, a parte do intestino removida é o retossigmóide, e geralmente conseguimos realizar uma anastomose, evitando a realização de um estoma. Nesse tipo de cirurgia, recomendo o uso da laparoscopia, técnica minimamente invasiva que oferece menor trauma e recuperação mais rápida. 

Outra opção é o uso de uma técnica chamada shaving, indicada para lesões superficiais, na qual os focos de endometriose intestinal são removidos da parede do intestino sem precisar remover um segmento dele. 

Em casos em que a lesão é maior e mais profunda, removemos a lesão e a espessura total da parede intestinal, com realização de uma sutura no local. 

Outro fator importante a respeito da cirurgia para endometriose que a paciente precisa saber é que esse procedimento não cura a doença. A remoção das lesões causadas pela endometriose e seus focos ajuda a diminuir os sintomas e atrasa sua progressão, enquanto a remoção da parte do intestino afetada por problemas como obstrução busca prevenir outras complicações graves.