Desde a semana passada, a pandemia do novo Coronavírus alterou significativamente o cotidiano dos brasileiros.

Tenho recebido mensagens de amigos e pacientes muito preocupados com a situação, por isso resolvi trazer algumas informações importantes a respeito da combinação de doenças inflamatórias intestinais e a Covid-19. 

Aqueles que correm mais riscos de desenvolver pneumonia e sintomas mais graves são idosos e pessoas com o sistema imunológico comprometido por outras enfermidades ou tratamentos. É o caso de pacientes com doenças inflamatórias intestinais (DII) que fazem uso de medicamentos imunossupressores. 

No entanto, até o momento, nenhum paciente com doença inflamatória intestinal foi reportado com infecção pelo SARS-CoV-2, nome científico do novo Coronavírus na China. Os dados vêm da IBD Elite Union, entidade que incorpora os sete maiores centros de referência em DII na China, com mais de vinte mil pacientes. 

Os maiores centros terciários de DII de Wuhan também não identificaram nenhum caso até o dia oito de março.

Como as organizações de DII estão se articulando ao redor do mundo 

Mesmo sem o registro de casos de pacientes com doenças inflamatórias intestinais e Coronavírus nesses primeiros estudos, é necessário ter cautela.

Por isso, várias estratégias foram implementadas na China para minimizar o risco de infecção pelo novo Coronavírus nesses pacientes. 

A primeira delas foi a publicação, no início de fevereiro, de diretrizes oficiais para o manejo de pessoas com DII. 

Essas diretrizes incluem recomendações práticas para o uso de medicamentos biológicos e imunossupressores, nutrição específica, adiamento de cirurgias eletivas e exames endoscópicos e medidas pessoais de prevenção. 

Além disso, a Fundação Chinesa de Crohn e Colite organizou um grupo de gastroenterologistas voluntários especializados em DII para oferecer consultoria online para pacientes com DII, desde 29 de janeiro deste ano.

Um programa de consultas virtuais também foi iniciado em alguns centros de DII, evitando o contato destes pacientes com pessoas infectadas em locais públicos, para reduzir o risco de contrair SARS-CoV-2. 

Com a crescente preocupação global com os pacientes portadores de DII, organizações internacionais não lucrativas como a Crohn’s & Colites Foundation of America e a Crohn & Colites UK, providenciaram diretrizes online úteis sobre Covid-19, já disponíveis para acesso dos médicos e pacientes.    

O que essa movimentação da comunidade médica e também dos pacientes com DII ao redor do mundo indica é que estamos todos juntos para combater a pandemia e proteger as pessoas mais vulneráveis às complicações causadas pela doença. 

Com tantas entidades envolvidas, mais conhecimento será produzido, facilitando a contenção da pandemia. 

Nem todas as pessoas com DII fazem parte do grupo de risco

O que estabelece que um paciente com doença inflamatória intestinal faz parte do grupo vulnerável à complicações da Covid-19 não é a doença em si, mas o medicamento utilizado e o estágio atual da doença. 

Portanto, grupos de risco potenciais para infecção pelo novo Coronavírus podem ser:

– Pacientes com DII em uso de imunossupressores;

– Pacientes com DII em atividade e desnutrição;

– Pacientes idosos com DII;

– Pacientes com DII em visitas frequentes a consultórios e clínicas;

– Pacientes com DII associadas a outras doenças como hipertensão e diabetes;

– Pacientes com DII grávidas.

Ou seja, se você tem DII mas não se enquadra nesses e em outros grupos de risco, não faz uso de imunossupressores e está com boa saúde geral, apenas siga as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e fique em casa, adotando as medidas de higiene. 

Se expor a consultas e ambientes com demais pessoas doentes pode aumentar sua chance de se infectar com o novo coronavírus ou outra doença infecciosa, o que devemos evitar nesse momento.

Como fica a medicação de quem tem doença inflamatória intestinal durante a pandemia

Se a doença estiver estável, continue seu tratamento normalmente. Caso sua doença entre em atividade, não deixe de consultar seu médico por telefone ou WhatsApp para receber orientações especializadas: cada caso é único e o profissional que acompanha você já conhece sua medicação e histórico médico. 

Vale lembrar que nem toda medicação vai alterar o risco de infecção pelo novo Coronavírus ou qualquer outra doença infecciosa. 

Mesalazina e medicamentos biológicos poderão ser mantidos!

Já os corticoides, podem ser mantidos com atenção aos possíveis efeitos colaterais da medicação. Novamente, se tiver dúvidas, não hesite em entrar em contato com seu médico. 

Se você iria começar um tratamento com imunossupressores ou aumentar sua dose nesse período, esse não é um bom momento, principalmente se você estiver numa área epidêmica. Discuta com seu médico outras alternativas até que a pandemia esteja mais controlada. 

Quem utiliza infusão de infliximabe, que deve ser administrada em centro médico, poderá trocá-la por adalimumabe, que pode ser aplicada com injeções subcutâneas em casa. 

O tratamento com ustequinumabe pode ser continuado, embora iniciá-lo não seja recomendado, já que é necessário ir a centros de infusão. 

O vedolizumab e o adalimumabe podem ser mantidos sem problemas!

Por fim, se algum paciente não conseguir ter acesso a medicamentos biológicos nesse período, a nutrição enteral pode ser utilizada.

Lembrando que essas recomendações são para pacientes com DII SEM sintomas de Covid-19. 

Procedimentos cirúrgicos em pacientes com DII

Todas as cirurgias eletivas e colonoscopias devem ser adiadas nesse período conforme determinação das autoridades de saúde, tanto para manter o protocolo de isolamento social e proteger paciente e profissionais de saúde de uma possível contaminação, quanto para evitar sobrecarregar os hospitais.

Caso seja necessário realizar uma cirurgia de urgência, um rastreamento do novo Coronavírus deverá ser feito antes do procedimento, incluindo uma tomografia de tórax do paciente. 

Estou com febre e tenho DII, e agora?

Se você tem doença inflamatória intestinal e está apresentando febre, entre em contato com seu médico imediatamente para avaliar a necessidade de atendimento presencial e suspensão da medicação. 

Por fim, siga à risca as orientações em relação à Covid-19: 

• Não saia de casa;
• Se precisar sair e estiver apresentando sintomas, utilize máscara ou lenço;
• Se apresentar febre e dificuldades para respirar, procure uma orientação médica com urgência.

Esse momento pode parecer muito confuso e assustador para muita gente. No entanto, é fundamental buscar informação de qualidade e seguir as orientações para evitar contrair o vírus e contaminar as pessoas ao nosso redor. 

A comunidade médica ainda está tentando aprender sobre o novo coronavírus e descobrir as melhores estratégias de tratamento da doença. Esses profissionais estão trabalhando incansavelmente para vencer a pandemia. Conto com vocês para manter a calma e ficar em casa!